quarta-feira, 1 de julho de 2009

Redenção

Andando por uma praça tarde da noite, deixo que meus pensamentos substituam o silêncio daquele local, àquela hora vazio. Fazia um frio desgraçado por ser inverno, e eu o sentia na pele. Fechei o casaco. Lembranças vêm à tona, e o rosto dele aparece diante dos meus olhos. Tento tocá-lo, mas foi em vão. Ele já não está mais aqui, e eu continuo tentando convencer-me do contrário. Não podia aceitar que o dono do meu sorriso já não sorriria mais para mim.

De repente uma falta enorme daquela pessoa me possuiu, e comecei a correr até chegar ao cemitério municipal. O portão estava trancado, mas aquilo não me impediria. Pulei o muro e segui o caminho que sabia decorado em direção ao túmulo dele. Joguei-me por cima da grama gelada que o cobria e agarrei-a entre meus dedos, chorando à soluçar, tentando sentir novamente o calor do nosso amor tão bonito. Sentia-me sozinha, abandonada. Pesadas gotas pousaram em meu rosto já encharcado pelas lágrimas. Começara a chover. Estaria o céu comovido com o meu sofrimento? Senti inveja da água que escorria pela terra, logo sendo absorvida pela mesma. Afinal, ela podia alcançar o meu amado. Murmurei coisas que um ser humano normal não seria capaz de escutar. Virei-me de frente para o céu, redendo-me ao frio toque da chuva em meu corpo, e fechei os olhos.

Ouço alguém gritar por mim, um barulho de ondas ao fundo. Abro os olhos e o que vejo à minha frente é seu sorriso reluzente e uma mão estendida. Agarro essa mão e deixo-me levantar por ele. Olhei ao redor. Estávamos em uma praia deserta, a mesma em que ele me levou no dia do meu aniversário. Ele me puxou em direção ao mar, e eu me deixei levar. Não conseguia raciocinar direito, aquilo era "bom demais para ser verdade". O que estávamos fazendo ali? Teria eu conseguido uma segunda chance? Deveria aproveitá-la, então. Ele estava ali, não estava? Segurando minha mão...espera. Desde quando a mão dele tinha uma aparência tão frágil? Parecia que, se eu a apertasse, ela se quebraria em mil pedaços. Ele olhou para mim. Um rosto magro, abatido. Um sorriso falso que tentava disfarçar sofrimento. Parei. Ele chamou por mim. Aproximei-me dele, pousando delicadamente a palma da minha mão sobre sua face. Ele estava igual àquele dia, no hospital. Abracei-o, fechando os olhos. Queria sentí-lo comigo. Meu coração batia forte. O dele...eu não conseguia sentir! Pus a mão sobre seu peito. Nada. Deslizei meu rosto até o local, grudando meu ouvido nele. Não ouvia nada. Desesperei-me. Não, eu não poderia perdê-lo novamente. Olhei para ele, meu rosto coberto de lágrimas. Ele estendeu novamente a mão para mim, a outra apontando para o mar. Ele queria me levar com ele.

Segurei sua mão decididamente. Não era uma maldita doença que iria nos separar. Nosso amor ultrapassa as barreiras do corpo e da alma. Fomos andando até o mar. Estava congelante. Não me importei. O calor do nosso amor me protegia. Continuei caminhando para o interior do oceano. Sussurrei um "eu te amo", e minha cabeça foi imersa pela água.


Até hoje comentam sobre a história da garota que morreu congelada por ter passado a noite debaixo da chuva em plena baixa estação. Mas não é sobre isso que falavam. A garota fora encontrada com o corpo quase que totalmente congelado. Uma parte de seu corpo estava tão quente que não podia ser tocado. O coração.



Faz anos que não atualizo, e sinto MUITO por isso. Como sempre, estive negligenciando minhas responsabilidades na internet.
O que eu coloquei hoje é um conto que escrevi há muito tempo, tem mais ou menos um ano e meio. E eu o amo muito. Apesar de suas imperfeições, tenho orgulho de tê-lo escrito. Então, apenas quis compartilhar. Espero que agrade.